A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou duas novas indicações para o medicamento oncológico Tibsovo ®️ (ivosidenibe), terapia alvo oral, inibidor da enzima IDH1, disponibilizado pelo laboratório Servier. Já registrado no Brasil desde 2024 para pacientes com colangiocarcinoma avançado ou metastático com mutação em IDH1, o fármaco passa a ser indicado também para pacientes adultos com leucemia mieloide aguda (LMA), com a mesma mutação.
As aprovações abrangem duas situações: em associação com azacitidina para pacientes recém-diagnosticados com LMA IDH1 mutada não elegíveis à quimioterapia intensiva, e em monoterapia, para casos recidivados ou refratários — quando a doença retorna após remissão ou não responde ao tratamento.
A LMA é um câncer hematológico agressivo, responsável por 20% a 30% dos casos de leucemia no Brasil. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o país deve registrar 11,5 mil novos casos de leucemia por ano no triênio 2023-2025, sendo 2,3 mil e 3,4 mil diagnósticos anuais de LMA. A doença leva ao acúmulo de células imaturas (blastos), que dificultam a formação de glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas, causando sintomas como fadiga intensa, maior risco de infecções e sangramentos.
O Tibsovo®️ ajuda a retardar ou impedir o crescimento do câncer e é indicado para um grupo de pacientes específico, que apresenta mutação no gene IDH1 R132, condição que deve ser avaliada através de testes genéticos. “Até agora, não existiam terapias aprovadas especificamente para esse perfil de pacientes no Brasil. As novas indicações também reforçam a importância do teste genético na definição das condutas e na possibilidade de melhorar os resultados clínicos”, explica Fabio Pires, hematologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
A segurança e eficácia do Tibsovo foram comprovadas pelo estudo clínico de fase 3, randomizado, multicêntrico, duplo-cego, controlado por placebo (AGILE), no qual a combinação de ivosidenibe com azacitidina demonstrou benefícios clínicos significativos em pacientes com LMA recém-diagnosticada com mutação em IDH1 não elegíveis à quimioterapia intensiva. O tratamento alcançou sobrevida global mediana de 29,3 meses contra 7,9 meses no grupo controle, reduzindo em 56% o risco de morte. Quase metade dos pacientes obteve remissão completa (47% vs. 15%), e uma proporção ainda maior atingiu independência transfusional (46% vs. 18%). “Esses resultados reforçam o potencial da combinação como uma nova opção terapêutica eficaz e bem tolerada para essa população de difícil tratamento”, afirma Fabio Pires.
Outro estudo multicêntrico, de braço único, avaliou 174 pacientes com LMA recidivada ou refratária com mutação em IDH1. O uso de ivosidenibe resultou numa taxa de remissão completa (RC) ou remissão completa com recuperação hematológica parcial (RCh) de 30,4%, após dois a seis meses. Entre os dependentes de transfusões, 37,3% se tornaram independentes em até 56 dias e 59,4% dos já independentes mantiveram a condição. Em um tempo mediano de seguimento de 14,8 meses, a sobrevida global mediana desta população (125 pacientes que receberam a dose de 500mg) foi de 8,8 meses. A sobrevida em 18 meses foi de 50,1% naqueles pacientes que alcançaram RC ou RCh.
“O Tibsovo foi o primeiro inibidor de IDH1 mutado aprovado na Europa, em maio de 2023, e nos EUA, em agosto de 2021. A aprovação desta indicação no Brasil introduz no país a primeira terapia direcionada para mutação em IDH1 em pacientes com leucemia mieloide aguda recém diagnosticada, inelegível à quimioterapia intensiva ou pacientes com LMA recidivada ou refratárias com a mesma mutação, oferecendo nova alternativa terapêutica para um grupo de pacientes com poucas opções de tratamento”, afirma Fernanda Salek, diretora de Oncologia da Servier do Brasil.