Gestão hospitalar: um novo olhar à saúde mental dos médicos

Gestão hospitalar: um novo olhar à saúde mental dos médicos
Gestão hospitalar: um novo olhar à saúde mental dos médicos

O relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em colaboração com a Harvard T.H. Chan School of Public Health, Uma grande tempestade se forma no horizonte, recém-publicado, acende um alerta sobre o futuro da saúde nas Américas. O documento projeta que, entre 2020 e 2050, o impacto econômico combinado de doenças não transmissíveis e problemas de saúde mental pode custar ao Brasil cerca de US$ 3,7 trilhões em despesas e perda de produtividade.

Segundo Thiago Simões Leite, médico e gestor da Medplus, empresa especializada na gestão e terceirização de equipes médicas, esses dados macroeconômicos revelam uma crise silenciosa que já acontece dentro dos hospitais: o esgotamento da saúde mental dos próprios profissionais de saúde. “Observar o stress de colegas é uma realidade que me acompanha desde a residência. Hoje entendo que o bem-estar do médico impacta diretamente na qualidade do atendimento e na segurança do paciente”, afirma Leite.

A avaliação de Leite é validada por estudos que trazem um recorte profissional.  De acordo com a pesquisa Demografia Médica no Brasil 2023, realizada pela Faculdade de Medicina da USP com apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM), quase 60% dos médicos brasileiros apresentam sintomas de esgotamento profissional, a Síndrome de Burnout. O estudo aponta que, entre os médicos com até 39 anos, um em cada quatro já recebeu diagnóstico de depressão.

“O relatório da OPAS quantifica em escala nacional o que gestores hospitalares e médicos vivenciam há muito tempo na linha de frente”, afirma Thiago Simões Leite. “A ‘grande tempestade’ já apresenta seus primeiros sinais nos corredores dos hospitais e o estudo é um chamado para agir. Ignorar essa realidade é um risco estratégico e financeiro para toda a cadeia de saúde”.

A Medplus, que atua preenchendo lacunas de especialistas em hospitais da rede pública (SUS) e privada, observa o impacto direto de uma gestão de pessoas deficiente. “A alta rotatividade de profissionais e a dificuldade em reter talentos são, muitas vezes, sintomas de um ambiente de trabalho que não oferece o suporte necessário”, analisa o médico.

Olhar humanizado

Simões Leite acredita que a mitigação do problema passa por uma mudança de cultura organizacional, liderada pela gestão hospitalar que precisa ter um olhar humanizado. A OPAS aponta que cada dólar investido no tratamento da depressão e da ansiedade gera quatro dólares em benefícios econômicos, uma lógica que, para Leite, se aplica diretamente à gestão de pessoas na saúde. E ele aponta algumas frentes de atuação que podem ser adotadas nas unidades para se contrapor a essa realidade.

  1. Controle de escalas: planejamento de jornadas que permitam descanso adequado e garantindo previsibilidade.
  2. Apoio: implementar programas de apoio com canais de escuta acessíveis.
  3. Treinamento de líderes: capacitar coordenadores de equipes para identificar sinais de esgotamento e promover um ambiente de diálogo.
  4. Investimento em tecnologia: é importante reduzir a carga burocrática e otimizar fluxos de trabalho para que o médico possa se dedicar mais ao cuidado ao paciente.

“O trabalho da gestão deve se voltar cada vez mais para o humano. Precisamos usar as tecnologias para ganhar expertise em análise e entender as necessidades do hospital e do médico para criar uma sinergia que beneficie a todos, principalmente o paciente, resume Tiago Simões Leite. “Uma gestão inteligente de pessoas é a base para um cuidado em saúde de excelência e humanizado”, conclui.

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