A parcela dos trabalhadores com renda entre um e dois salários mínimos aumentou de 32,4% no primeiro trimestre de 2022 para 35,1% no primeiro trimestre deste ano, enquanto a porcentagem daqueles que recebem até um salário mínimo caiu de 35,5% para 31,7% no mesmo período. Esses dados foram divulgados pelo jornal Valor Econômico, com base em um estudo do economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, utilizando os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do IBGE.
O estudo também revela que a participação dos trabalhadores com renda acima de dois salários mínimos aumentou de 29,9% no primeiro trimestre de 2022 para 31,6% no mesmo período de 2024.
Especialistas apontam várias razões para essa mudança, incluindo um mercado de trabalho aquecido, especialmente no setor formal, aumento da renda, melhoria na composição educacional da força de trabalho e reajustes do salário mínimo acima da inflação.
Acordos coletivos têm registrado reajustes superiores à variação dos índices de preços, e a inflação tem perdido força. Além disso, houve uma saída de trabalhadores de menor renda do mercado e uma redução dos postos de trabalho de pior qualidade.
Essa tendência de aumento da massa salarial no Brasil a partir de 2023 é confirmada por um aumento de 10,6% no número de trabalhadores que recebem mais de dois salários mínimos por mês, representando 3,1 milhões de pessoas a mais nessa faixa de renda. Entre aqueles que ganham entre um e dois salários mínimos, o crescimento foi ainda maior, de 13,6%, totalizando 4,2 milhões de assalariados a mais. Houve também uma redução de 6,5% no percentual de trabalhadores com renda inferior a um salário mínimo, equivalente a 2,3 milhões de pessoas a menos.
A massa de rendimentos dos trabalhadores, que é a soma dos salários e outras fontes de ganhos, aumentou 6,6% em um ano, atingindo um recorde histórico de R$ 308,3 bilhões no primeiro trimestre deste ano, um aumento de R$ 19,2 bilhões em comparação ao ano anterior.
Reajustes salariais negociados acima da inflação
De acordo com o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), em abril deste ano, 77% dos 90 reajustes salariais negociados por sindicatos resultaram em ganhos reais nos salários, em comparação com o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do IBGE.
O rendimento médio real de todas as fontes de renda também cresceu em relação ao ano anterior, alcançando R$ 2.846 em 2023, próximo do recorde histórico de R$ 2.840 registrado em 2014, durante o governo da então presidenta Dilma Rousseff.
O economista Marcos Hecksher, pesquisador do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), atribui essa evolução da massa salarial a fatores como a redução do desemprego e o controle da inflação. Ele afirma que “as pessoas estão ganhando mais salários mínimos e, além disso, o próprio salário mínimo teve um aumento expressivo em seu poder de compra.”
“A partir de 2023, políticas implantadas pelo governo Lula levaram a um mercado de trabalho aquecido no setor formal, aumento da renda, melhoria na composição educacional da força de trabalho, reajuste do salário mínimo acima da inflação, a maioria dos acordos coletivos com reajustes acima da inflação e desaceleração da inflação”, explica o deputado estadual Luiz Claudio Marcolino (PT-SP), que foi dirigente sindical e diretor do DIEESE.