Lula, no Conselhão: “Eu não sou o presidente dos mais pobres, eu sou um deles”

O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável da Presidência da República (CDESS), conhecido como Conselhão, se reuniu nesta quinta-feira (27) no Palácio do Itamaraty. Criado pelo presidente Lula há mais de 20 anos, no início de seu primeiro mandato, o Conselhão visa estreitar o diálogo entre o governo e a sociedade civil. Atualmente, é composto por 250 membros, incluindo representantes do setor empresarial e de movimentos sociais, que formulam propostas de políticas públicas para o Executivo. “Tenho muito orgulho de ter vocês participando deste conselho, muito orgulho”, declarou Lula.

Em maio de 2019, o CDESS foi extinto pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) através de um decreto, que eliminou 55 conselhos e colegiados subordinados ao governo federal, incluindo o Conselhão. “Vi um cidadão destruir este país nos últimos quatro anos. Ele gastou US$ 60 bilhões na tentativa de manter o poder. E muitos não disseram nada”, criticou Lula.

O presidente destacou a importância do diálogo com todas as classes sociais do país e falou sobre suas origens com orgulho. “Eu sou o único presidente no mundo que vai a uma reunião e conversa tanto com o mais rico quanto com o mais pobre. Não há problema… porque eu não sou apenas o presidente dos mais pobres, eu sou um deles, que chegou à Presidência da República, e quero que isso seja valorizado”, afirmou, sob aplausos.

Lula também explicou seu apreço pela educação, apesar de não ter um diploma universitário. “Gosto de educação porque quero dar aos filhos do povo brasileiro o que minha mãe não pôde me dar. Se eu não pude estudar, quero que as pessoas possam estudar”, justificou.

### Desempenho Econômico

O presidente reafirmou sua confiança no desempenho econômico do país em 2024. Referindo-se ao controle da inflação alcançado pelo governo, Lula relembrou os tempos em que era operário nos anos 1980, quando o desequilíbrio dos preços obrigava os consumidores a comprar apenas produtos não perecíveis para preservar o valor do salário. “Quero, rogo e trabalho para que a inflação seja baixa. Mas também peço para que possamos melhorar a vida do povo mais pobre deste país.”

Em seu discurso, Lula abordou a economia real, que envolve produção, compra e fluxo de bens e serviços. “É preciso estudar a macroeconomia, mas também entender o que está acontecendo lá embaixo. Não apenas a pessoa que tomou R$ 1 bilhão emprestado, mas também aquela que tomou R$ 5 mil, R$ 10 mil ou R$ 500 mil emprestados. Essa economia está a todo vapor”, comemorou.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT-SP), destacou algumas das medidas do governo para aquecer a economia e corrigir injustiças sociais. “Como o presidente sempre nos lembra, recolocamos o povo no orçamento e incluímos na arrecadação alguns dos que não pagavam o devido tributo. O país voltou a valorizar o salário mínimo com reajuste de inflação mais PIB e aumento da isenção do imposto de renda, cuja tabela não era reajustada havia sete anos”, explicou.

Isaac Sidney, presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), elogiou o trabalho de Haddad. “Precisamos reconhecer que, apesar do contexto mundial adverso, o Brasil vem colhendo frutos positivos do trabalho econômico do ministro Haddad. Basta olhar para o PIB do ano passado e do primeiro trimestre deste ano, uma expansão robusta. Isso nos entusiasma bastante”, afirmou.

### Taxa de Juros

O conselheiro Clemente Ganz Lúcio, sociólogo e professor universitário, defendeu a qualificação do debate público a partir dos resultados alcançados pelo governo em um ano e meio, e destacou a necessidade de reduzir a taxa básica de juros, a Selic. “Já temos resultados concretos, vividos pela sociedade”, disse. “A urgência do ajuste fiscal precisa ser debatida com clareza. É fundamental reassentar esse debate no princípio do equilíbrio fiscal, conforme definido pela Constituição de 1988, como projeto socioeconômico para o país… Não há atividade produtiva competitiva com essa taxa de extorsão da riqueza pró-rentismo”, constatou Clemente.

Adriana Marcolino, socióloga e diretora do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), lamentou que a Selic permaneça em 10,50%. “Com os juros básicos no atual patamar, o desenvolvimento nacional fica comprometido. Gostaria de registrar nossa posição pela redução da taxa de juros de forma consistente e na velocidade necessária para a retomada do desenvolvimento econômico, social e sustentável.”

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