Em 2023, a cirurgia bariátrica foi realizada em apenas 0,097% do público com indicação para o procedimento, apontam dados levantados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCM). Mais recentemente, em maio de 2025, o Conselho Federal de Medicina (CFM) atualizou as regras para esse tipo de cirurgia: entre as mudanças, o público elegível foi ampliado.
As novas diretrizes do CFM reconheceram a importância do Índice de Massa Corporal (IMC) associado a comorbidades já em estágios iniciais, diz o médico Rodrigo Barbosa. Ele é cirurgião do aparelho digestivo, especialista em cirurgia bariátrica e metabólica e fundador do Instituto Medicina em Foco.
“Uma das principais mudanças é a autorização da cirurgia para pacientes com IMC entre 30 e 34,9, desde que apresentem doenças associadas, como diabetes tipo 2 ou apneia do sono. Além disso, houve flexibilização no tempo mínimo de acompanhamento clínico, agora permitindo abordagens mais individualizadas. Trata-se de um avanço importante no enfrentamento precoce da obesidade e suas complicações”, afirma Barbosa, a respeito das mudanças do CFM.
Essas alterações podem tornar o processo de indicação à cirurgia mais acessível e centrado na saúde do paciente, não apenas no peso. Pacientes que antes não eram elegíveis, mas sofriam com comorbidades graves, agora podem ser avaliados com maior critério clínico, avalia o médico.
Isso reduz o tempo de sofrimento e amplia as possibilidades terapêuticas, especialmente nos casos em que medicamentos ou dietas isoladas não surtiram efeito, complementa Barbosa.
Inteligência artificial
O Instituto Medicina em Foco desenvolveu uma inteligência artificial (IA) – MefIA que avalia a elegibilidade de pacientes à cirurgia bariátrica. Ela coleta dados básicos do paciente como peso, altura, idade, histórico clínico e presença de comorbidades.
“A partir desses dados, a ferramenta calcula automaticamente o IMC e cruza as informações com as novas diretrizes do CFM e com consensos internacionais. O sistema orienta o paciente sobre a probabilidade de indicação cirúrgica ou, caso não haja indicação imediata, sugere outras abordagens como acompanhamento nutricional, atividade física ou uso de medicações. A resposta tem como objetivo ser rápida, didática e respeitar critérios médicos validados”, detalha Barbosa.
Segundo o médico, embora o núcleo da avaliação seja clínico, a ferramenta também alerta para fatores psicossociais relevantes. Por exemplo, se o paciente relata compulsão alimentar, histórico de depressão ou uso abusivo de substâncias, o sistema recomenda automaticamente uma avaliação psicológica ou psiquiátrica antes da cirurgia. Isso busca garantir que o processo seja seguro e abrangente.
“Para o paciente, a principal funcionalidade é a clareza: em minutos ele entende se tem ou não indicação, o que deve fazer a seguir e quais especialistas precisa procurar. Para o médico, a ferramenta atua como um filtro qualificado, podendo otimizar o tempo em consultório e promover um pré-enquadramento dos pacientes conforme critérios técnicos. Além disso, a IA gera um relatório automático que pode ser integrado ao prontuário ou apresentado durante a consulta”, acrescenta Barbosa.
“Acredito que o uso de IA pode e deve ser expandido para outras especialidades ‒ como ortopedia, neurologia e até mesmo ginecologia ‒ desde que respeite os princípios éticos, técnicos e humanos da medicina. Essas ferramentas ampliam o acesso e facilitam a tomada de decisão compartilhada”, ressalta ele.