Plataforma coleta dados inéditos sobre desigualdades raciais no Brasil

Lançada em dezembro de 2022, a ferramenta de dados raciais da Cedra fornece referências cruzadas gratuitas e descomplicadas de informações oficiais como nunca antes.

A taxa de analfabetismo entre as mulheres negras era mais de três vezes maior do que entre as mulheres brancas em 2010. No mesmo ano, havia 3,5 vezes mais empregadores brancos do que negros entre as pessoas com ocupações. Esses são alguns dos dados coletados no Centro de Estudos e Dados da Desigualdade Racial (Cedra), plataforma inédita lançada em 16 de dezembro de 2022 gratuitamente.
A iniciativa reúne bases de dados, informações e oferece análises para examinar as diferenças nas condições de vida entre negros e não negros e revelar novas dimensões da desigualdade racial no país. Desenvolvida por uma equipe de especialistas em ciência de dados e pensadores raciais, essa ferramenta visa apoiar políticas públicas, além de contribuir para o desenvolvimento de estudos e políticas relacionadas à raça.

“A imagem de que o Brasil é uma democracia racial com igualdade de tratamento entre negros e brancos é compartilhada por muita gente. Os dados podem mudar a posição de vários deles, e uma das propostas é conversar com esse público”, afirma o físico Marcelo Tragtenberg, membro do Conselho Deliberativo do Cedra e um de seus fundadores.

Segundo o físico, são várias as motivações para a criação da ferramenta. Uma delas é que os dados sobre a desigualdade racial no Brasil estão espalhados em vários bancos de dados, difíceis de encontrar e muitas vezes difíceis de entender.

“Os ativistas devem estar munidos de dados para fortalecer a luta pela igualdade racial, principalmente o Movimento Negro. Esses dados, chegando aos gestores públicos e privados, podem sensibilizar para políticas de equidade racial em diversas áreas (educação, saúde, habitação, trabalho, saúde, violência, encarceramento)”, comenta Tragtenberg.

O banco de dados da iniciativa reúne, primeiramente, em um único local, as informações do Censo 2010 e da Pesquisa Contínua por Amostra de Domicílios (PNADc) de 2012 a 2019. /planta com indicadores de renda, trabalho, escolaridade e características dos domicílios. As tabelas podem ser baixadas para suportar análises mais complexas.
“Faz muito tempo que essa ferramenta estava em falta e hoje, quando o interesse pela igualdade racial se espalhou, a plataforma se tornou indispensável, seja para informação, seja para combater a desinformação”, aponta o membro do conselho consultivo do Cedra.

Além disso, a ferramenta informa que os jovens e as mulheres negras têm sido definidos como foco das análises a partir do entendimento de que as diferentes formas de discriminação presentes na sociedade – raça, gênero, orientação sexual, idade etc. – se sobrepõem , intensificam a opressão. Os dados também se concentram em analisar o impacto da lei de cotas sobre negros e estudantes negros no ensino superior federal.

A iniciativa prevê que nos próximos meses sejam incorporados mais dados oficiais, como informações mais atualizadas e detalhadas disponibilizadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), dados de saúde produzidos pelo DATASUS/Ministério da Saúde, dados de educação dados produzidos pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), informações sobre violência registradas nas Secretarias Estaduais de Segurança Pública e dados carcerários produzidos pelo Departamento Nacional de Penitenciárias.

“Acreditamos que é preciso questionar essas desigualdades, por isso problematizamos e buscamos respostas nas estatísticas oficiais. Dados não são apenas números. Eles são um retrato da realidade e lançam luz sobre certos fenômenos sociais. Para combater o racismo, é fundamental ter informações confiáveis, baseadas em dados de qualidade, que possam ser facilmente acessadas e utilizadas por ativistas, gestores públicos, parlamentares e todas as pessoas que desejam construir uma sociedade antirracista”, informa o site da ferramenta.

Além do físico Marcel Tragtenberg, o ativista, escritor e presidente da Oxfam Brasil Hélio Santos, o economista Mário Theodor, a historiadora e pesquisadora das relações raciais e de gênero Wania Sant’Anna e o economista e ex-presidente do IBGE Eduardo Pereira Nunes.

A plataforma é de livre acesso no site do Cedra, instituição independente e apartidária. Na construção da ferramenta, a instituição contou com o apoio do Instituto Çarê, Fundação Itaú, Itaú Unibanco, Instituto Galo da Manhã e Instituto Ibirapitanga, além de parcerias com Amazon Web Services, Bain & Company, Daniel Advogados e Instituto Brasileiro de Análise Social e Econômica – IBASE.

COm informações do Texto: Fernanda Rosário | Edição: Elias Santana Malê | Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil
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